Salgueiro Maia não estava a falar em sentido figurado.
Contou que Rui Patrício "borrou-se
todo". Literalmente.
No dia 25 de abril de 1974, o ministro dos negócios
estrangeiros refugiou-se no quartel do Carmo, juntamente com Marcello Caetano.
O compartimento era pequeno. Segundo o jovem capitão, cheirava mesmo muito mal.
Muitos anos depois, após o oficial morrer, o político
veio desmentir.
Todavia, fê-lo num livro escrito pela sua amiga Leonor
Xavier. Na obra, o antigo responsável da diplomacia portuguesa narra várias
histórias falsas, inventadas por ele, como referi anteriormente.
MEDO
Rui Patrício nega ter "ficado com tanto medo, que até estava a sentir-se mal". Aliás,
"no 25 de abril não houve nada que
me metesse medo". O pior que lhe aconteceu foi uma cefaleia: "eu estava um bocado maldisposto, com dores
de cabeça".
Receios, terão sido poucos. Talvez devido a ele a saber
quão estúpidos eram os energúmenos civis, que apoiavam os militares revoltosos.
Aquilo "não era povo. Era escumalha".
Ainda por cima, néscios: "aquela
canalha, se tivesse tido a inteligência de tirar o soldado" que seguia
no topo da chaimite, "tinha sido
muito fácil dar cabo de nós".
Quer-me parecer que aqui a estupidez é do jurista.
Ninguém pretendia matá-lo, ao contrário do que ele pensa. Se quisessem fazê-lo,
tê-lo-iam abatido.
FUZILAMENTO
Apesar de tanta parvoíce, aqueles momentos "não foram agradáveis".
É que "uma
pessoa estar no governo é uma coisa, ser fuzilado é outra".
Sou forçado a concordar. Nunca passei por nenhuma
dessas experiências. Mas a sensação de estar no governo não deve ser igual à de
quem sofre uma execução.
Por isso, compreendo que ele diga que não estava
preparado "para ser ali
esfrangalhado".
Estes são os argumentos com que o ex-governante tenta
convencer que Salgueiro Maia mentiu. Se calhar, os tansos até ficam persuadidos
com esta linha de raciocínio.