A tragédia ocorreu a dois passos de minha casa. André
Sousa Bessa afogou-se na piscina de uns amigos. Aos 29 anos, o jurista morreu,
já no hospital de Almada.
Não deve causar estranheza o interesse do Ministério
Público, órgão que persegue os criminosos. Assim como não é surpreendente que a
Polícia Judiciária questione as pessoas que estavam com a vítima.
É um procedimento normal e que certamente terminará com
a conclusão de que o drama resultou de um horrível acidente.
O óbito sucedeu já na unidade hospitalar. Mas foi causado por morte violenta, como sempre acontece nos casos de afogamento. A asfixia
por imersão tem sempre origem num acidente, suicídio ou assassinato.
Por isso, é indispensável proceder a uma autópsia.
Mediante processo administrativo ou inquérito criminal, o procurador
responsável averigua as causas do falecimento. Tudo se torna transparente e não
há margem para dúvidas. Quanto mais cedo tiverem lugar as diligências, menos
especulações poderão surgir.
SUSPEITAS
Nalgumas situações, é dispensado o exame tanatológico.
Por exemplo, uma pessoa de idade já muito avançada morre em casa. Tudo leva a
crer que estivesse sozinho. A autópsia é julgada desnecessária. Há a vantagem
de não atrasar as cerimónias fúnebres.
Todavia, é nesses casos que se torna mais frequente o
aparecimento de interrogações posteriores. Quando o corpo não é autopsiado,
podem levantar-se suspeitas. Permanece a dúvida se uma averiguação mais
aprofundada esclareceria melhor as circunstâncias em que se deu o finamento.
Portanto, devemos aplaudir a decisão de rapidamente
elucidar de que modo aconteceu a desgraça que vitimou o filho de Judite de
Sousa e Pedro Bessa.
Caso tenham sido colhidas amostras hematológicas logo
após a admissão na urgência, tal permite determinar que substâncias foram
ingeridas. Designadamente, consegue-se saber se foram tomados medicamentos ou
bebidas alcoólicas. O sangue obtido durante a autópsia já é posterior à
metabolização. Em vida, ainda que inconsciente, o infeliz falecido assimilou o
que ingeriu.
ÓCULOS ESCUROS
Um lamentabilíssimo infortúnio passou-se com a minha
querida professora de francês, do ciclo preparatório.
Já aposentada, tinha-se divorciado. Vivia sozinha, com
um filho adulto, no Barreiro. O homem nada fazia e era altamente conflituoso.
Com frequência, a mãe surgia de óculos escuros,
disfarçando hematomas. Queixava-se de agressões de que era vítima.
Um dia morreu. Já lá vão dez anos.
Falou-se em problemas cardíacos.
Chamada uma ambulância, a desinfeliz foi conduzida ao
hospital. O filho e o antigo marido, médico de profissão, providenciaram pelo
funeral.
Precisamente neste caso, surgiram uma série de
desconfianças. Injustamente, muitos responsabilizavam o pessoal da unidade de
saúde, por dificultar uma cabal explicação sobre o que provocou o decesso. Não
correspondia à realidade, de modo nenhum.
Nessa situação concreta, o que se passou foi,
realmente, um desinteresse por parte do Ministério Público. O respetivo
magistrado entendeu inúteis mais diligências e deu o caso como encerrado.
Nenhum clínico, profissional de saúde algum, se furtou
a colaborar em atos tendentes a clarificar o que levou à prematura perda de um
pessoa muito querida.