Sou fã de Leonor Xavier, jornalista,
responsável por livros que têm feito as minhas delícias.
Apreciei particularmente o “Casas Contadas”,
em que ela relata a sua vida, recheada dos mais interessantes episódios no
plano político, cultural, familiar e da vida social.
Adorei as biografias de Maria Barroso e
Raul Solnado. Esta última somente contém uma pequena imprecisão: a de Augusto
Cabrita se encontrar em primeiro lugar na bicha da bilheteira para a estreia do
Teatro Villaret.
É interessantíssima a obra que inclui a
entrevista ao antigo ministro dos negócios estrangeiros, Rui Patrício. O
trabalho apresenta uma caraterística a que aludirei mais adiante. Concede a
palavra ao jurista, permitindo-lhe dizer o que lhe apetece, até as mais descaradas
falsidades. E não envolve nenhuma apreciação crítica por parte da respetiva
autora.
DINHEIRO MAL GASTO
Preparava-me para comprar o mais recente
volume de Leonor: “Portugal, Tempo de Paixão”. Compila testemunhos de quem
viveu intensamente o PREC, o Verão Quente de 1975, o turbulento período
revolucionário em curso.
Na livraria, peguei num exemplar. Em breves
segundos, folheei-o e logo desisti da aquisição.
Não vale um caracol.
A IDADE NÃO PERDOA
Afinal, trata-se apenas de uma seleção de
textos escritos por uma centena de personagens, idosas ou já mortas. Umas mais
sinistras do que outras.
Supostamente, narram o que faziam há
quarenta anos, inventando o que lhes dá na real gana.
É matéria delicada, que assalta todos os
repórteres. Cabe perguntar se a respetiva função é apenas a de estender o
microfone do gravador e permitir que cada pessoa exponha a sua versão. Ou se,
pelo contrário, compete-lhes verificar os factos, fazer indagações e expor as
incongruências.
Numa só página deste livro, uma certa mulher
descreve as coisas mais absurdas, que todos sabem não corresponder à realidade.
Fala no marido, médico cirurgião de grande
prestígio. Exatamente o condutor do potente automóvel que transportou Álvaro
Cunhal na evasão de Peniche.
A figura diz que foi morar com o esposo
para um sótão, juntamente com a filha, nesses tempos que antecederam o 25 de
novembro. Mas, por essa altura, já ela se encontrava divorciada. Enganava a
criança, ao contar-lhe que o pai era um outro indivíduo. Uma mentira em que a
pobre menina acreditou até aos 8 anos.
Aliás, essa pessoa nem acerta na idade que
a desgraçada menor tinha quando Eanes liderou o movimento que reconduziu
Portugal à normalidade.