As razões pelas quais alguém decide tornar-se criminoso podem ser as mais variadas.
No caso do Senhor Bojarski, o grande
problema foi a Nestlé atrasar-se no interesse pela sua invenção.
Ainda antes de completar 30 anos, o
engenheiro formado na Polónia fixou residência em Paris, onde se juntou à
resistência que enfrentava os ocupantes nazis. Ele dedicou-se a falsificar
passaportes e vistos, permitindo a fuga de muitos judeus.
Terminado o conflito e libertada a França
do jugo alemão, ele inventou a cápsula de café e registou a correspondente
patente.
Mas ninguém achou que fosse grande ideia.
NESCAFÉ
A companhia alimentar suíça faturava
milhões com uma bebida instantânea, surgida graças à sobreprodução brasileira e
tornada famosa com a mundialização da guerra. O paladar do solúvel Nescafé
sempre foi objeto de muitas críticas, mas a facilidade na sua preparação
tornou-o um sucesso planetário.
Já o café de alta pressão em cápsulas só
adquiriu verdadeira importância a partir do ano 2000, com a abertura da
primeira loja da marca popularizada por George Clooney.
Aos 88 anos, o inventor viu finalmente
reconhecida a genialidade da sua criação, tendo assistido ao fenómeno nos 2
anos que ainda viveu em pleno século XXI.
VIDA NOVA
O pior é que, entretanto, Ceslaw Jan Bojarski teve que ganhar a vida.
Em 1951, o polaco
naturalizado francês resolveu mudar de rumo quando se convenceu que as suas
cápsulas de café nunca teriam êxito.
Então decidiu
regressar às falsificações, inspirado nos seus tempos de ajuda a refugiados.
Mas, dessa vez, passou
a fabricar notas de banco, qual Alves dos Reis em terras gaulesas.
Durante mais de uma
dúzia de anos, dedicou-se a imprimir cédulas de cem francos com a efígie de
Napoleão. Muito semelhantes às verdadeiras, são hoje peças de coleção
transacionadas a 7 mil euros cada uma, valor muito superior ao que os
numismatas pagam pelas autênticas.
O homem investia
os lucros em obrigações de tesouro e barras de ouro.
Em 1964, foi
apanhado e cumpriu 13 anos de cadeia, após a polícia apreender tudo aquilo a
que conseguiu deitar mão.
Recuperada a
liberdade, não obstante andar sem trabalho, ele ia frequentemente passar férias
na neve, acompanhado de sua mulher.
Precisamente numa
dessas ausências, os bombeiros foram chamados ao prédio onde Bojarski
morava.
O seu apartamento fora atingido por uma
inundação e não havia maneira de entrar na residência.
Forçada a porta, os soldados da paz fizeram
uma descoberta curiosíssima: barras e moedas de ouro escondidas na cozinha
garantiam a subsistência do antigo falsário.