Gozei do privilégio de participar na Nuit des Idées, que teve lugar na Fundação Gulbenkian.
Semelhante debate de ideias teve igualmente
lugar em dezenas de outras capitais de todo o mundo no mesmo dia, numa
iniciativa gigantesca do estado francês.
Em Lisboa, tivemos a imensa sorte de contar
com uma sessão de abertura a cargo de Boris
Cyrulnik, o médico judeu que perdeu os pais durante a II Guerra Mundial.
Quando o conflito
terminou, ele contava 8 anos de idade.
Embora as
perspetivas não fossem animadoras para o órfão, ele mostrava-se determinado a
fazer com que o futuro fosse muito mais risonho do que os tristes primeiros
anos da sua existência. Tornou-se um cientista e intelectual muito reputado,
autor de livros de grande sucesso.
Deixou o dramático passado para trás,
agarrou-se ao presente do pós-guerra (e certamente aos estudos também) e foi
construindo um futuro brilhante.
Naquele evento em terras lusas, partilhou
uma curiosa história. Ou estória, para quem prefere substituir as duas
primeiras letras do vocábulo quando se trata de contar algo ficcional.
PARTIR PEDRA
Era uma vez um viajante que visitava uma
nova cidade.
Aproximou-se de um monte de pedras grandes,
que estavam a ser fragmentadas por um indivíduo que nelas batia repetidamente
com uma marreta.
O forasteiro abordou o trabalhador e
indagou sobre o que ele fazia. A resposta veio com azedume:
- Faço o que me mandam fazer. Puseram-me
aqui a partir pedra durante todo o dia. Não sei o que é pior. Se o frio que
passo de manhã ou as horas de transpiração quando se aproxima o meio-dia.
Após uma curta caminhada, o visitante
chegou junto de outro sujeito que desempenhava a mesma tarefa e que replicou de
forma diferente perante idêntica pergunta:
- É o que vê: trabalho não falta. Desde que
começou esta obra, a minha vida mudou. Eu atravessava um período de algumas
dificuldades económicas. Agora venho para aqui de segunda a sexta-feira,
pagam-me um salário razoável e nada me falta em casa.
Ao ser questionado um terceiro operário, veio
uma interessante observação. O homem pousou o martelo e apontou para o edifício
que estava a ser erguido:
- Estou a construir uma catedral.
Tratava-se de um homem com visão de futuro,
que sentia fazer parte da execução de um projeto, de algo que se encontrava a
ser erigido com vista a outro porvir. Envolvia-se no progresso da construção.
STRESS
A experiência bem real deste clínico
bordalês e aquela curiosa narrativa imaginária trouxeram-me à mente o que se
passa quando alguém se confronta com um processo judicial em tribunal.
É das situações mais stressantes.
O importante é ter presente que se trata de
um problema temporário e que se pode levar a cabo um trabalho com vista a que o
futuro desfecho seja o mais favorável possível.