Impressiona o drama registado no canil de
Santo Tirso.
Lavrou um incêndio nas imediações do abrigo.
Resgataram-se dezenas de animais. Porém, tal só foi possível após peripécias
rocambolescas que levaram a um trágico balanço de aproximadamente 70 cães
mortos.
As proprietárias do espaço poderão vir a
ser responsabilizadas criminalmente em tribunal.
Os queixosos serão sempre seres humanos,
preocupados com o bem-estar dos companheiros de quatro patas.
Um dia talvez os animais possam ser
titulares de direitos consagrados legalmente e intervenham como partes de um
processo judicial.
JULGAMENTO
Tempos houve em que as bestas eram acusadas
de crimes e julgadas enquanto
criaturas de Deus, capazes de distinguir o bem do mal.
Tinham direito a Advogado nomeado
oficiosamente.
As audiências não eram meros simulacros,
mas verdadeiras diligências judiciais, que raramente terminavam com a
absolvição. De um modo geral, a sentença determinava a morte do pobre bicho causador
dos danos que justificavam o seu julgamento.
CADEIRA ELÉTRICA
Já no dealbar do século XX, nos Estados
Unidos, pôs-se termo à vida de uma artista de circo, o elefante fêmea Topsy.
O caso foi apresentado como a execução, por
cadeira elétrica, do paquiderme. O animal matara James Fielding Blount, um
espetador embriagado que pretendia partilhar a sua garrafa de whisky com a vedeta
circense.
Nessa altura, já não havia animais no banco
dos réus. Estava-se longe de uma audiência perante a justiça. O triste
cerimonial consistiu, acima de tudo, num lamentável golpe mediático em que tudo
foi filmado.
PAPAGUEANDO
Recuando no tempo, quando corria o ano de
1794, em França, um papagaio foi efetivamente julgado no tribunal.
O caso é que a ave pertencia ao Marquês de La Viefville.
O nobre
permaneceu convicto defensor da monarquia, mesmo após a implantação da
República decretada na sequência da Revolução parisiense.
Então, numa atitude de afirmação, decidiu
ensinar o seu bicho a repetir: “Viva o
Rei! Vivam os padres!”.
Colocou o louro num poleiro em plena rua,
para que os transeuntes escutassem aquelas expressões reacionárias.
Alertada a polícia, o papagaio foi detido e
conduzido à esquadra para interrogatório. Perante as autoridades,
confirmaram-se as loas a figuras do antigo regime. Lavrou-se o auto no dia 16
de abril, que, no novo calendário, significava 27 de germinal do ano II.
Sujeito a prisão preventiva, o arguido arriscava
a guilhotina, forma definitiva de silenciar quem se opunha à marcha da
revolução. O procurador não hesitou e pediu que fosse aplicada a pena de morte
ao papagaio.
O juiz mostrou-se clemente e decidiu-se
pela reeducação do Jacó. Confiou-o a pessoa de confiança, de firmes ideais, Marie-Élisabeth
Régniez, mulher do deputado Joseph Lebon. A senhora encarregou-se de ensinar novas
palavras ao bicho.