domingo
JOGAR À PANCADA
Julgo que seria dos poucos locais onde se praticava baseball em Portugal.
Era mesmo junto a minha casa, num descampado.
Um simpático casal de canadianos, aposentados, residia ali.
Decidiram propor aos mais jovens que se iniciassem naquele desporto. Foi um sucesso.
Mas, entretanto, eles foram viver para França, devido à paixão que tinham pelo desporto automóvel.
O baseball acabou na vizinhança. Sem o entusiasmo da Carol e do Richard, os jogos deixaram de se realizar.
O curioso é que a venda de tacos de baseball é significativa, no nosso país.
Toda a gente sabe que há armas proibidas, mesmo que o seu detentor não tenha más intenções.
É a situação das navalhas de ponta e mola, das facas tipo borboleta ou de pistolas de alarme adaptadas.
Nesse caso, não há salvação possível.
A pessoa bem pode explicar que era só para cortar um chouriço ou limpar as unhas.
Já tive até o caso de um indivíduo que me dizia utilizar a navalha para as duas finalidades, consoante as ocasiões.
Mesmo sabendo que aquilo não passava de uma invenção, não deixou de me meter alguma impressão.
Agora há certo tipo de objectos que são usados para agredir e o seu possuidor não tem maneira de explicar qual a sua finalidade, a não ser realmente aquela.
Por exemplo, alguns traficantes de droga fazem-se acompanhar de barras de ferro ou de outro metal. Algumas delas até estão dotadas de uma pega em borracha. Outras são chatas, para colocar no antebraço, por debaixo da manga da camisola. Basta dar na cabeça de uma pessoa, para causar uma fractura.
É muito difícil fornecer uma explicação adequada para a detenção daqueles objectos. Não é proibido andar com eles, se tiverem uma determinada utilidade lícita. Mas, de uma forma geral, conclui-se que não têm. A condenação é inevitável.
De modo que os tacos de baseball têm, aqui, um papel peculiar.
São ideais para abrir a cabeça de uma pessoa ou partir-lhe uma perna.
Até que isso suceda, é difícil impedir o seu detentor de andar a passear com aquele objecto. Tem o direito de ser um interessado pelo futebol americano.
Contudo, num dia, um rufia já conhecido, veio-me com uma história interessante.
Ele tinha comprado o cabo de uma enxada, numa loja de materiais de construção. Forneceu-me todos os pormenores sobre o objecto, que nunca chegou a ser apreendido. Indicou o estabelecimento onde o tinha adquirido.
Até disse que só tinha comprado aquele cabo, precisamente com o propósito de se “defender”.
Insistia muito num ponto. Não era um taco de baseball. Contrariamente ao que a vítima dizia.
O desgraçado que fora para o hospital com a perna partida realmente ia nesse sentido.
Eu disse ao arguido que pouca importância tinha aquela diferença.
Tanto me fazia como era exactamente o pau.
Havia duas coisas essenciais. Ele andava com o objecto para eventualmente vir a bater em alguém. Efectivamente, agrediu uma pessoa.
Mas ele lá devia pensar que a pena era mais grave, tratando-se do que o ferido afirmava. Disse-me, então, o arguido:
- Aquilo era um cabo normal de uma enxada. É que um taco de baseball tem uma determinada finalidade…
Realmente, tem. É praticar um desporto. Que não consiste em espancar outros.
No entanto, para alguns, o seu objectivo natural e óbvio será um diferente daquele para que foi inventado.