quinta-feira

O TERRORISTA ORGULHOSO


Por vezes, perguntamo-nos porque razão uma pessoa decide ser terrorista.
A resposta é difícil.
No mundo ocidental, aqueles que admitem ter praticado actos terroristas são normalmente os arrependidos. Demonstram remorsos.
Os outros prisioneiros negam integrar os respectivos grupos.
Não se conhece ninguém que diga que pertenceu às Forças Populares 25 de Abril e tenha orgulho nisso.





Bommi Bauman constitui uma excepção. Ele fez parte do terrível gang Baader-Meinhof.
Foi este grupo que nos anos setenta aterrorizou a Alemanha Ocidental. A ele se devem dezenas de homicídios, raptos, ataques bombistas e assaltos.
O antecessor deste bando foi o Movimento 2 de Junho.
No dia 2 de Junho de 1967, o Xá do Irão visitou oficialmente Berlim Ocidental. Milhares de jovens manifestaram-se contra o regime repressivo do Irão.
Curiosamente, o jovem Andreas Baader e a jornalista Ulrike Meinhoff não participaram na manifestação.
Ela estava entretida a comprar móveis para a sua nova casa.
Ele não podia mesmo sair à rua. Estava preso por furto de uma motorizada.


O CHACAL

Mais tarde, os dois fundaram o grupo que recebeu os seus apelidos, aproveitando o trabalho entretanto desenvolvido pelo Movimento 2 de Junho.
Receberam auxílio de Carlos, o Chacal, e recrutaram dezenas de operacionais.
Inventaram uma terrível arma: a bomba bebé. Uma mulher, fingindo-se grávida, carregava material explosivo na barriga. Depositava-o no local onde iria ocorrer o atentado. Depois, enchia uma bola de praia e colocava-a junto ao umbigo. Lá seguia a grávida, com a sua barriga proeminente.
Em 1972, os dois líderes foram presos. A mulher chorou copiosamente, ao ser detida. Submetida a reconhecimento, na sala apropriada para o efeito, boicotou o procedimento. As testemunhas deveriam compará-la com quatro outras pessoas. Mas ela desatou aos gritos: “Eu sou a Ulrik Meinhoff!”. Exames radiológicos permitiram confirmar a sua identidade.
Em 1976, morreram na cadeia. Tudo indica que se terá tratado de suicídio. No entanto, há quem defenda a tese do assassinato. Eles eram odiados por quase todos os presos.
Só em 1977, o grupo Baader Meinhoff cessou as suas actividades terroristas.



A MAGIA DO DINHEIRO

O operacional Bommi Baumann fugiu da Alemanha. Não renegou a sua condição de terrorista e escreveu uma autobiografia. É um livro raro, hoje esgotado.
Um dos capítulos tem a seguinte epígrafe: “porque é que um tipo se faz terrorista?”.
O motivo é sempre a ambição pessoal.
Os terroristas são indivíduos que não encontram realização na sua actividade profissional, na família ou na intervenção na comunidade. Ficam fascinados pela facilidade com que vivem sem trabalhar.
Diz Baumann: “A magia do dinheiro desempenha o seu papel. Quando há imenso dinheiro, há sempre um que diz, vamos comprar isto ou aquilo. Arranjam-se coisas inúteis, até artigos de consumo. Adquire-se uma verdadeira garagem, as pessoas ficam admiradas por nos verem todos os dias em frente da casa com um carro novo”.
O terrorismo do século XXI tem exactamente a mesma base. Os operacionais querem é cuidar da sua vida, sem olhar a meios.