sábado

A CARDINA ABRANTINA




Vou relatar um caso passado em Abrantes. Relaciona-se com a condução em estado de embriaguez.
Contudo, previamente, gostaria de tecer um comentário.
É frequente o agente policial perguntar ao condutor se ingeriu alguma bebida alcoólica, antes de o teste do balão ser iniciado. Em caso afirmativo, até questiona sobre o que bebeu e em que quantidades.
Esta prática, aliás, surge na linha de uma outra indagação tradicional, no caso de infracções em flagrante:
- Senhor condutor, sabe por que razão eu o mandei parar?
A finalidade é óbvia.
Com a resposta, pode-se obter uma admissão de culpa.
No caso da condução sob a influência do álcool, a matéria é ainda mais importante.
Sobretudo em casos de acidente, torna-se difícil ao condutor vir dizer que só ingeriu as bebidas alcoólicas após ter imobilizado a viatura.
É claro que a resposta a este tipo de questões é meramente facultativa.
Voltemos então ao caso de Abrantes.
Envolve uma pessoa, já conhecida por ser apanhada a conduzir com um copito a mais.
Certa vez, veio com uma que não lembraria ao diabo.
Soprou no balão.
O resultado foi positivo.
Pediu a contraprova.
Há duas modalidades, à escolha do alegado infractor.
A primeira é efectuar novo sopro.
A segunda é a deslocação ao hospital, para recolha de sangue. Depois, é efectuada análise hematológica.
O condutor optou por esta segunda possibilidade.
Veio o relatório. A quantidade de álcool no sangue indiciava a prática de crime.
Entrou aqui a inteligência do arguido. E também alguns conhecimentos técnicos. A química não é matéria que lhe seja desconhecida.
- Senhor Dr. Juiz, saiba V. Exª que o conteúdo dos frascos remetidos para análise era composto por duas substâncias. A seringa para a qual foi aspirado o sangue continha, para além deste, o álcool utilizado na limpeza do local em redor do qual foi inserida a agulha.
É algo de desarmante.
Antes de iniciar a recolha do sangue, o técnico de saúde embebe um pedaço de algodão em álcool. Com este, procede à limpeza de uma pequena área do braço, onde irá espetar a agulha. Ao puxar o êmbolo da seringa, absorve não apenas o sangue, mas também o álcool utilizado na desinfecção.
O resultado das análises sai viciado.
Vejamos as coisas noutra perspectiva.
Estamos no século XXI, num país europeu. Para além disso, numa cidade como Abrantes. Esta conta com um excelente hospital, extremamente bem dotado, a todos os níveis. Há quem diga até que estará sobredimensionado.
Actualmente, não se embebem pedaços de algodão em álcool para proceder à desinfecção.
Utilizam-se sprays com soluções iodadas. Aguarda-se um momento para que haja lugar à evaporação. Nunca – mas nunca – se deve soprar para acelerar tal processo. O paciente ainda levava com uma cuspidela.