sábado

FICAR SEM CASA




De entre os vivos, poucos se recordarão do terramoto que assolou Benavente, no dia 23 de Abril de 1909. Atingiu uma magnitude de 6,7.
Como teve origem intraplaca, não chegou às proporções do sismo de 1755, provocado por um choque interplacas.
No entanto, foi o suficiente para destruir um elevadíssimo número de edificações.
Nessa altura, como agora, coloca-se o problema dos realojados.
Quem tem casa própria, vê-se num sarilho. O que lhe resta é o terreno. Se tiver a sorte de estar protegido por seguro – o que é raro – ainda pode contar com esse dinheiro para reconstruir a sua habitação.
Agora quem viver em casa alugada, é que perde mesmo tudo.
Com a destruição da residência, não lhe resta outra coisa senão a de ir à procura de outro sítio para morar.
Há vários motivos para terminar o contrato de arrendamento. Um deles é a destruição do locado.
A Tia Ana, tia de minha mãe – portanto, minha tia-avó – era pessoa de muito bom coração.
Era proprietária de uma série de casas térreas, todas elas juntas umas às outras.
A rua era estreita e, do lado oposto, encontrava-se a ser edificado um enorme prédio.
Até que um dia, por erro de construção, gerou-se um enorme desmoronamento de terras.
Foi-se a rua e foram abaixo as casas pertencentes à minha tia.
Felizmente, ninguém morreu. Nem sequer houve feridos. Ainda houve quem apanhasse um valente susto. Mas não passou disso.
Aquilo era um sério problema para o construtor. Ele estava mesmo em maus lençóis.
No entanto, a minha tia acabou por não lhe mover um processo judicial em tribunal.
Aceitou que as casas fossem reconstruídas, embora sob apertada fiscalização.
Uma vez terminada a construção, eu esclareci a Tia Ana dos seus direitos.
Nada a obrigava a alugar aquelas casas. Podia vendê-las ou deixá-las devolutas.
E se decidisse arrendá-las, poderia escolher os inquilinos que muito bem entendesse. Nada a obrigava a realojar as pessoas que lá antes moravam. O que esses poderiam fazer era pedir uma indemnização ao tal construtor desastrado.
De resto, as rendas eram baixas. Eram pessoas já algo idosas, que ali moravam há muito.
Mas a Tia Ana, mais uma vez, deu provas do seu espírito generoso.
Entregou as novas chaves aos antigos inquilinos. Mantendo a renda de sempre.
Voltemos ao sismo de Benavente. Já se está a aproximar o seu centenário.
Há várias zonas críticas em Portugal.
O Algarve está já a ser monitorizado.
Mas sabemos também que o Vale do Tejo se encontra numa área potencialmente problemática.
No norte de Portugal, o retorno de um terramoto situa-se na ordem dos milhares de anos.
Já na zona mais a sul, a probabilidade de vir a repetir-se um sismo é muitíssimo mais elevada, por estar abrangida pelo interior da placa euro-asiática.
Estou certo de uma coisa.
Logo após terminarem os trabalhos na zona algarvia, será, com toda a certeza, dada prioridade ao Vale do Tejo.