sábado
O GRANDE ASSALTO
Alpiarça tem conhecido um significativo desenvolvimento nos últimos anos.
As suas gentes gostam cada vez mais de lá morar.
Têm orgulho na terra onde residem. O seu vasto património arquitectónico e cultural é crescentemente valorizado. Os recursos são muito bem aproveitados, buscando-se o seu melhor proveito de dia para dia, sem prejudicar o desejado equilíbrio.
Faz agora um ano que integrei um encontro rotário de visita ao Ribatejo.
Os participantes eram membros do Rotary Club, vindos dos mais diversos pontos do planeta.
Tinham uma característica em comum.
Eram todos pilotos amadores, com o respectivo brevet a somar-se ao seu currículo profissional.
A quase totalidade tinha o seu avião particular e fez-se transportar na própria aeronave, aterrando em Santarém. Advogados, médicos, empresários, professores: cada um aos comandos do seu avião.
Ficámos alojados no Hotel Corinthia. O programa foi magnífico e muito enriquecedor.
Estes meus companheiros rotários não eram propriamente o género de pessoas pouco viajadas. Estão habituados a percorrer o mundo, muitas das vezes nos seus aparelhos particulares.
Também não serão indivíduos com especiais dificuldades económicas.
Ficaram muitíssimo bem impressionados com Alpiarça.
Todos referiram que era um verdadeiro encanto. A harmonia entre os elementos urbanos e os factores rurais deixou-os deliciados.
Naturalmente, a visita à Casa dos Patudos e à reserva do cavalo Sorraia mereceu particular atenção.
Não imaginam o número de questões colocadas aos anfitriães e a quantidade de fotografias captadas.
Estes visitantes elogiavam o notório progresso. Mas também a preservação da qualidade de vida.
Eu partilho de tal ponto de vista.
É este um dos aspectos que mais me atrai em Alpiarça.
A capacidade de manter um desenvolvimento sustentável.
Não é uma terra que se deixe parar no tempo, limitando-se a usufruir das suas riquezas.
Recentemente, sofreu um crescimento notável, a todos os níveis, sendo os benefícios evidentes.
No entanto, não se têm sentido os efeitos negativos de uma tal evolução.
Isso é notório a nível da criminalidade.
De um modo geral, à medida que uma localidade vai progredindo, aumenta o número de crimes.
Ora claramente tal não sucede em Alpiarça.
Às vezes, até parece que haveria uma certa necessidade de arranjar alguma coisa para dizer que ocorreu lá um crime ou qualquer coisa de mal.
Numa bela sexta feira, eu preparava-me para passar o fim de semana em Azeitão, com as minhas filhas.
Lá surgiram três pessoas que tinham sido detidas em Alpiarça.
No dia seguinte, o caso fez manchete na primeira página de vários jornais nacionais. Deu na televisão. Nos noticiários radiofónicos, debatia-se o acontecimento até à exaustão.
Ainda hoje, na Internet, encontram-se fotografias do velho Rover, no interior do qual se encontravam os explosivos apreendidos.
Eram três imigrantes de leste, que se faziam transportar num carro comprado em segunda mão. No porta bagagens, encontrava-se gelamonite, normalmente utilizada nas pedreiras.
Ainda por cima, eles permaneciam irregularmente em Portugal.
Cada um tinha o seu telemóvel, que provavelmente não tinha sido adquirido novo. Mas também não havia indícios que fossem aparelhos roubados.
Os jornalistas já tinham matéria para se entreterem.
Aqueles três perigosos estrangeiros, tendo já praticado anteriores ilegalidades, transportavam explosivos no seu carro. E tinham telemóveis de duvidosa origem.
Certamente, preparavam um gigantesco assalto.
Nos meios da comunicação social, lá chegaram a estas conclusões.
Eu, que os interroguei pela tarde fora e noite dentro, não conclui isso com tanta facilidade.