quarta-feira

ALTO MAR




Impressiona o caso do tripulante francês que pereceu ao largo da costa algarvia. Encontrava-se fortemente amarrado e, obviamente, não sobreviveu ao naufrágio da embarcação.
O caso apresenta duas particularidades.
A primeira resulta da circunstância de o crime ter ocorrido num trimarã.
Os ilícitos sucedidos no mar deixam, em muitos casos, dúvidas.
Nem sempre é claro o número de pessoas que subiram a bordo de uma embarcação. Acontece, por vezes, haver a firme convicção de que, ao zarpar, seguiam onze pessoas, mas quando se deu o regresso, vinham apenas dez indivíduos. Nalguns casos, é difícil romper o silêncio dos viajantes.
A salvaguarda de vidas humanas no mar não se reduz apenas a prevenir acidentes e providenciar pelo salvamento de náufragos. Consiste também em criar condições para evitar a prática de crimes naquelas especiais características.
Depois, a outra peculiaridade traduz-se no facto de os sobreviventes alegarem que houve uma tentativa de violação por parte do falecido.
Custa a compreender a versão deles: que tenha havido uma tentativa de violação e que, perante a mesma, eles tenham decidido amarrar o agressor.
Na sequência de uma ocorrência anormal a bordo, deve haver uma comunicação via rádio. Obviamente, a violação ou simplesmente a sua tentativa implicaria tal participação. É difícil compreender que tenham optado apenas por amarrar a pessoa em causa.
Por outro lado, se os dois sobreviventes fossem efectivamente irmãos, não se poderia aceitar que o homem que agora se encontra preso estaria apenas a fantasiar uma hipotética violação, infidelidade ou assédio.
Tal é frequente no caso de maridos que atingem a andropausa.
É sabido que o problema se encontra minimizado graças aos fármacos que estimulam a vasodilatação dos corpos cavernosos do órgão genital masculino.
Mas, em todo o caso, há uma altura da vida em que alguns homens começam a desconfiar da mulher. A desconfiança estende-se a uma série de homens próximos do casal: amigos e vizinhos são normalmente as vítimas mais prováveis.
Um amigo de infância, que sempre se deu optimamente com o casal e que mantinha um relacionamento chegado, torna-se repentinamente num feroz suspeito de andar envolvido com a senhora.
Foi o que sucedeu em Santarém, há dias. O perturbado marido ciumento atingiu o velho amigo com um projéctil disparado contra o braço.
Ou então um vizinho que sempre colocou escadas junto a árvores, para subir e colher os frutos ou tratar das plantas, passa a fazê-lo apenas para lançar olhares sobre a mulher do homem que já não se sente nas condições físicas de outrora.
Tal ocorreu em Almeirim, aqui há uns anos. O marido apanhou o vizinho a jeito quase no último degrau da escada. Disparou sobre ele e fê-lo cair, cheio de dores.
Noutra situação também real, um amigo convidado, como tantas vezes sucedera anteriormente, para almoçar, decide fazer aquilo que sempre fizera ao terminar a refeição: desaperta o botão das calças, para sentir a protuberante barriga mais à vontade. Aquilo é interpretado pelo marido da senhora como um convite dirigido a esta.
Ora estas situações pressupõem, efectivamente, que haja um casamento e que o marido se sinta mais debilitado.
Nesses casos, sim, é perfeitamente possível que o homem se convença realmente de que a sua mulher anda a ser cobiçada por outrem.
Mas não é certamente o que ocorre na situação do trimarã francês.