quinta-feira

SUICIDOU-SE?




Continuo a entender que foi acertada a decisão de serem emitidas as imagens do enforcamento de Saddam Hussein.
Sou frontalmente contra a pena de morte. Se tal tipo de sanção existisse em Portugal, eu pura e simplesmente recusava-me a ser juiz.
Todavia, já que ao antigo ditador foi aplicada a punição capital e que estava disponível o respectivo filme, penso que se justifica perfeitamente a sua divulgação pelos meios de comunicação social. Ainda que tal tenha tido a nefasta consequência do mimetismo por algumas crianças, seria inadmissível restringir a liberdade de imprensa ou a liberdade de expressão.
Entre os estudantes de Medicina Legal, o enforcamento é das matérias que suscitam maior interesse.
É um método de suicídio muito comum.
No caso de presos, é quase o modo exclusivo de pôr termo à vida. A falta de outros meios torna necessário recorrer ao que se encontra ao alcance de qualquer pessoa.
Quando se está detido, não é fácil obter uma pistola, produtos tóxicos, uma faca para cortar os pulsos ou lançar-se de uma janela. Um lençol, uma gravata ou mesmo uns atacadores serão o suficiente para se começar a procurar um ponto de amarração relativamente elevado.
Mas é importante saber detectar assassinatos em que o criminoso pretende simular um suicídio.
Em certos casos, a vítima é morta por outro meio que não o enforcamento. Quando já cadáver, o assassino coloca o corpo suspenso numa corda. Nessa situação, é relativamente fácil descobrir que o óbito não resultou de asfixia mecânica.
Se o criminoso efectivamente enforcou a vítima, então importa analisar bem a corda e cada um dos filamentos que a compõem. O mais vulgar será o corpo ter sido suspenso por tracção, tendo o assassino puxado a corda, elevando a pessoa assassinada. Deste modo, os filamentos exteriores são os que revelam uma tracção maior, ficando marcados pelo puxão. Já os filamentos do interior revelam um esforço menor.
Em caso de suicídio, as marcas dos filamentos são uniformes, pois a tracção distribui-se igualmente por todos eles, já que a suspensão se dá pela projecção do suicida no espaço.