quinta-feira

HUMILHANTE




Referi que, no caso de suicídio de presos, o método é quase sempre o enforcamento, devido à falta de outros meios para colocar termo à vida.
Dos poucos prisioneiros que utilizaram outros métodos, conta-se um famoso nazi, condenado à morte no julgamento de Nuremberga.
Hermann Goring, comandante da Luftwaffe, era viciado em consumo de morfina, cuja utilização iniciou após ter sofrido ferimentos muito dolorosos. Devido ao uso da droga, deixou de apresentar o seu porte atlético e passou a caracterizar-se por obesidade mórbida.
Vencida a Alemanha na II Guerra Mundial, o facto de Goring se encontrar atrás das grades forçou-o à abstinência.
No dia 1 de Outubro de 1946, ouviu a sentença, que aludia expressamente ao método de execução: enforcamento.
Para um militar, esta é a mais humilhante forma de morrer.
É relativamente aceitável ser abatido perante um pelotão de fuzilamento, oferecendo o peito às balas. Mas é dificilmente aceitável ser lançado para um espaço livre e ficar pendurado por uma corda, com a fatal asfixia ou lesão cervical. Então com o peso de Goring, era mais certo que o enforcamento provocaria uma morte rapidíssima, mas com a normal fractura frequente nas execuções judiciárias deste tipo.
O dirigente nazi recorreu da decisão. Mas declarou logo que se conformava com a pena de morte, desde que a execução ocorresse com recurso a armas de fogo.
A pretensão foi-lhe negada e manteve-se a decisão: ele seria enforcado.
Na véspera da execução, o condenado foi encontrado morto na cela. Tinha mordido uma cápsula de cianeto.
Certamente, aquela embalagem encontrava-se entre o espólio do preso, que ficou apreendido na cadeia, quando ele foi capturado.
O mistério consiste em saber quem lhe terá feito chegar o ácido.
Erich Zalewski, um antigo oficial das SS, insistia ter sido ele a fornecer o produto ao preso. Mas pouca gente acredita nesta versão.
Um soldado norte-americano, Herbert Stivers, relatava uma outra versão.
Goring queixava-se de dores insuportáveis e dizia possuir medicamentos escondidos numa caneta de tinta permanente, que fazia parte do tal espólio. O militar acedeu a entregar-lhe os fármacos. Todavia, desconhecia tratar-se de cianeto.
A explicação mais plausível é a de que o preso estabeleceu uma verdadeira amizade com o Tenente Tex Wheelis, do exército dos Estados Unidos. O militar compreendeu o que custaria a Hermann Goring submeter-se à forca. Recorreu ao espólio do recluso e fez-lhe a entrega do cianeto.