Em matéria de criminalidade, os infractores procuram sempre deixar o menor número possível de vestígios da sua presença.
Impressões digitais, pegadas, sangue, simples pêlos ou cabelos, uma mera ponta de cigarro, uma imagem gravada da face descoberta, uma munição disparada, uma peça de vestuário, um porta-chaves, um telemóvel, o avistamento da matrícula de uma viatura: tudo são elementos que podem constituir importantes pistas para a captura do ladrão ou assassino.
Num furto ou homicídio a coberto de olhares estranhos, o ideal é deixar tudo como se ninguém tivesse passado por lá, a não ser para carregar o material ou matar a vítima.
Num roubo com abordagem da vítima ou num homicídio em ambiente mais rodeado de gente, há que evitar o posterior reconhecimento e impedir que se larguem vestígios.
Isto é o que se esperaria de um crime perfeito.
TRABALHAR EM CASA
No que toca a um outro assunto completamente diferente, as coisas não se devem passar assim.
Refiro-me a um tema que é objecto de aturado estudo na Universidade, na cadeira de Direito do Trabalho. Trata-se do serviço doméstico.
Entre empregador e empregada doméstica, existe um contrato que obedece a normas muito específicas, devido ao carácter especial do serviço prestado.
Algo sucede sempre em todos os casos. Quer seja uma empregada interna, com uma folga semanal, quer se trate de uma trabalhadora que se desloca diariamente à habitação onde labora, salvo aos fins-de-semana, ou caso seja alguém que apenas lá vai uma ou duas vezes por semana, uma coisa é certa. Grande parte ou mesmo a totalidade do trabalho é desenvolvido enquanto os donos da casa se encontram ausentes.
Um amigo meu desenvolveu uma teoria. O que as empregadas domésticas querem é deixar vestígios da sua presença, reveladores do seu precioso auxílio na lida da casa.
Exactamente ao contrário do que eu mencionei inicialmente, a propósito de uma realidade inteiramente distinta.
É fácil concordar com a tese deste meu amigo.
SEM MARGEM PARA DÚVIDAS
Em casa ou no local de trabalho, temos sempre claros indícios de que a empregada por ali andou. Segundo esse meu amigo, propositadamente deixados para não haver dúvidas.
Na secretária junto à qual nos sentamos diariamente para iniciar a nossa jornada laboral, vemos que o copo dos lápis não está no mesmo sítio, o agrafador mudou de local e o monitor do computador já não se encontra na posição habitual. Quanto ao teclado, os seus pés de suporte estão sempre ao contrário do que constitui o nosso uso. Levantados, se costumamos recolhê-los. Para baixo, se a nossa prática é a de erguê-los. Pode até suceder um dos pés se encontrar recolhido e o outro levantado, tornando manco o teclado.
Tudo provas de que a senhora da limpeza ali esteve. Seria preferível darmos pela sua presença somente pela maior higiene do local. Mas isso são outros quinhentos, como soe dizer-se.
Em casa, há um elemento invariável, demonstrativo da intervenção da nossa empregada doméstica.
Os bibelots, as peças de artesanato compradas durante as nossas viagens, os pequenos objectos de adorno, os livros maiores que colocamos sobre uma mesa, esses adquirem necessariamente uma nova posição.
Ficam sempre esquinados, virados de lado para o observador. Nada de linhas paralelas em relação à prateleira ou à mesa onde assentam. Nenhuma peça pode estar alinhada com a parede ou o fundo de uma estante. Tudo se quer devidamente enviesado.
Impressões digitais, pegadas, sangue, simples pêlos ou cabelos, uma mera ponta de cigarro, uma imagem gravada da face descoberta, uma munição disparada, uma peça de vestuário, um porta-chaves, um telemóvel, o avistamento da matrícula de uma viatura: tudo são elementos que podem constituir importantes pistas para a captura do ladrão ou assassino.
Num furto ou homicídio a coberto de olhares estranhos, o ideal é deixar tudo como se ninguém tivesse passado por lá, a não ser para carregar o material ou matar a vítima.
Num roubo com abordagem da vítima ou num homicídio em ambiente mais rodeado de gente, há que evitar o posterior reconhecimento e impedir que se larguem vestígios.
Isto é o que se esperaria de um crime perfeito.
TRABALHAR EM CASA
No que toca a um outro assunto completamente diferente, as coisas não se devem passar assim.
Refiro-me a um tema que é objecto de aturado estudo na Universidade, na cadeira de Direito do Trabalho. Trata-se do serviço doméstico.
Entre empregador e empregada doméstica, existe um contrato que obedece a normas muito específicas, devido ao carácter especial do serviço prestado.
Algo sucede sempre em todos os casos. Quer seja uma empregada interna, com uma folga semanal, quer se trate de uma trabalhadora que se desloca diariamente à habitação onde labora, salvo aos fins-de-semana, ou caso seja alguém que apenas lá vai uma ou duas vezes por semana, uma coisa é certa. Grande parte ou mesmo a totalidade do trabalho é desenvolvido enquanto os donos da casa se encontram ausentes.
Um amigo meu desenvolveu uma teoria. O que as empregadas domésticas querem é deixar vestígios da sua presença, reveladores do seu precioso auxílio na lida da casa.
Exactamente ao contrário do que eu mencionei inicialmente, a propósito de uma realidade inteiramente distinta.
É fácil concordar com a tese deste meu amigo.
SEM MARGEM PARA DÚVIDAS
Em casa ou no local de trabalho, temos sempre claros indícios de que a empregada por ali andou. Segundo esse meu amigo, propositadamente deixados para não haver dúvidas.
Na secretária junto à qual nos sentamos diariamente para iniciar a nossa jornada laboral, vemos que o copo dos lápis não está no mesmo sítio, o agrafador mudou de local e o monitor do computador já não se encontra na posição habitual. Quanto ao teclado, os seus pés de suporte estão sempre ao contrário do que constitui o nosso uso. Levantados, se costumamos recolhê-los. Para baixo, se a nossa prática é a de erguê-los. Pode até suceder um dos pés se encontrar recolhido e o outro levantado, tornando manco o teclado.
Tudo provas de que a senhora da limpeza ali esteve. Seria preferível darmos pela sua presença somente pela maior higiene do local. Mas isso são outros quinhentos, como soe dizer-se.
Em casa, há um elemento invariável, demonstrativo da intervenção da nossa empregada doméstica.
Os bibelots, as peças de artesanato compradas durante as nossas viagens, os pequenos objectos de adorno, os livros maiores que colocamos sobre uma mesa, esses adquirem necessariamente uma nova posição.
Ficam sempre esquinados, virados de lado para o observador. Nada de linhas paralelas em relação à prateleira ou à mesa onde assentam. Nenhuma peça pode estar alinhada com a parede ou o fundo de uma estante. Tudo se quer devidamente enviesado.