sexta-feira

O LIVRO DO ASSASSINO MILITÃO

É certamente de mau gosto a publicação de um livro escrito pelo assassino Luís Militão, que matou barbaramente seis pessoas no Brasil, em 2001.
Não faz sentido ele dizer que pretende angariar dinheiro para sustentar o seu filho, agora com 9 anos de idade. Seria desejável que os familiares das vítimas conseguissem forças para mover um processo judicial, com vista a que os royalties sejam canalizados para pagamento de indemnizações aos que sofreram o trágico desaparecimento dos seus parentes.
De qualquer modo, reveste interesse a leitura deste livrinho.
Em primeiro lugar, demonstra que Militão não decidiu tornar-se criminoso somente nas vésperas de convidar amigos para o visitarem no país irmão.
Enquanto explorava um bar, ele dedicou-se à receptação de material roubado.
Certa vez, por um montante reduzido, ficou com uma fotocopiadora, proveniente de um assalto. Inicialmente, a sua ideia era utilizar a mesma para reproduzir folhetos publicitários do estabelecimento.
Depois, resolveu fotocopiar notas. Fornecia-as a comparsas, que as punham em circulação. A qualidade era fraquinha. Certa vez, um dos cúmplices pagou umas bebidas numa boîte, recorrendo a tal moeda falsa. Assentou a nota sobre o balcão. Como este se encontrava molhado, a tinta borrou.
Porém, noutro caso, um ladrão foi enganado com estas notas falsas. Foi ao bar do Militão, exibindo um cordão em ouro, acabado de roubar. Pagaram-lhe com o dinheiro falsificado e ele não deu por nada.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESPANTO E ADMIRAÇÃO

Outro aspecto que esta obra evidencia é algo comum ao espírito de vários criminosos. Julgam descabido admitir a prática do delito enquanto estão convencidos de que não há provas.
Após a chacina, o homicida português fugiu para o Pará, acompanhado da sua mulher. Conta ele: “a minha ideia era comprar um terreno perto da Amazónia, criar umas cabeças de gado, e ficar a viver por ali”. Acrescenta: “sempre tive um grande fascínio pela vida simples e saudável do campo, dos agricultores, das pessoas que vivem do que a terra produz”. Que paz de alma…
Não teve muito tempo para gozar esse ambiente bucólico. Poucos dias depois de chegar ao seu destino campestre, um veículo policial aproximou-se dele.
É impressionante a surpresa que ele manifesta hoje, passados mais de oito anos.
Pedi-lhes que não fossem agressivos comigo, porque não tinha cometido qualquer delito”. Já todos ouvimos falar em negação. Mas, neste caso, tratava-se de um facínora, que tinha aniquilado e roubado seis pessoas.
Depois, é incompreensível o espanto dele: “os polícias não quiseram saber, algemaram-me ao carro”. A irresponsabilidade dele vai ao ponto de contar o seguinte: “senti-me mal com a situação, comecei a dizer que não tinha feito nada e não havia razão para estar preso”.
Um jornalista de um canal televisivo português estabeleceu um contacto telefónico, quando o homicida se encontrava já na esquadra da polícia federal, em Piauí.
Inicialmente, o repórter falou com o preso. Militão recorda: “neguei qualquer participação no crime”.
Depois, seguiu-se uma entrevista ao delegado da polícia federal. Segundo conta o autor do livro, o agente policial “afirmava que tinha desvendado o crime e que tinha quase a certeza do meu envolvimento. Aquela exibição deixou-me irritado”. Além disso, diz ele: “fiquei espantado”.
Um pormenor: a versão do Militão era falsa. Quem tinha razão era o polícia...