sábado

À PRESSÃO E BEM, NÃO HÁ QUEM OU O SABOR AUTÊNTICO DA IGNORÂNCIA

Como se diz:
a) Sobre pressão?
OU
b) Sob pressão?

Geralmente, os barris de cerveja contêm os dizeres: “conteúdo sob pressão”. O líquido encontra-se comprimido numa botija relativamente pequena, de onde se extraem litros e litros de finos, canecas, imperiais, girafas, príncipes ou tulipas. Tudo cervejas de pressão ou à pressão.
Como este último vocábulo assume vários significados, facilmente se podem fazer trocadilhos e conceber umas graçolas, sem grande esforço criativo.
Agora, para tirar partido da ambiguidade e inventar um slogan comercial, é necessário ter conhecimentos básicos de língua portuguesa. Deve ainda proceder-se a uma revisão, antes de elaborar o meio publicitário. Caso contrário, vale mais desistir da piada resultante de uma frase dúbia. É preferível estar quieto e não procurar ser engraçado. Nesse caso, o chiste vem da figura triste que faz o armado em cómico improvisado. É melhor não tentar ser publicitário amador.
Realmente, neste caso, tudo foi feito à pressão, por alguém que desconhece os rudimentos da língua pátria. O sujeito até poderia estar a trabalhar sob pressão. Mas não se sentiu sujeito à pressão de respeitar o bom Português.
Ou será que ele é um autêntico génio dos reclames e da nossa língua, mas após ter saboreado umas quantas cervejas, foi trabalhar sob influência do álcool?
O resultado é o que se vê no carro: um desastre. Não rodoviário, que a viatura não parece ter sido esmagada sob um enorme camião. Está impecável. Até a pressão dos pneus aparenta ser a correcta. Mas há um sabor autêntico a trabalho de ignorante, no que às regras linguísticas diz respeito.
Vejamos.
O constrangimento, a coacção ou a tensão pairam por cima de quem trabalha sujeito a tais influências. São forças que o pressionam por cima. Não são elementos que o indivíduo pisa enquanto labora.
Por isso, diz-se que uma pessoa trabalha sob pressão ou sujeito a pressão. Nunca sobre pressão.
Sob pressão ou não, eis um trabalho mal feito. O sabor talvez seja autêntico. A frase é que não é nada genuína. É português completamente adulterado.

(Palmela, 4 de Junho de 2010)