José Hermano Saraiva dizia que o outono não é a estação
do ano que representa o declínio. Pelo contrário, simboliza a renovação. As
folhas caducas tombam. Não resistiriam às baixas temperaturas e dão lugar às
que surgirão na primavera.
Para Rui Verde, arguido no caso da Universidade
Independente, essa época foi marcante. Em 2007, ele encontrava-se preso
preventivamente. Um recluso aproximou-se dele e perguntou ao antigo vice-reitor
se lhe oferecia a televisão que tinha na cela. Era sinal de que o detido mediático iria ser
libertado.
Efetivamente, algumas horas depois, veio a notificação
oficial. Aguardaria o julgamento em liberdade, após quase dez meses na cadeia
da Polícia Judiciária.
DUCHE
Em casa, o jurista escreveu um livro onde relata algo
que não surpreende: "Agosto é o mês
mais triste da prisão".
Os duches passam a ser de água fria. O sol convidaria a
passeios, idas à praia ou viagens, que são inviáveis. Sente-se que muitos dos
guardas estão de férias. A abertura das celas é feita mais tarde do que o
habitual.
"O calor,
numa prisão de homens, é algo desconfortante", conta Rui Verde.
Compreende-se. É a tal questão dos banhos. A maioria dos prisioneiros não adota
a prática do duche diário, embora tal seja perfeitamente possível. Tempo e água
não faltam. Mas, de um modo geral, o dia do banho é quando há visitas.
COMIDA
Mais importante do que o banho é a comemoração das
vitórias do club da Luz. Aí, sim, é dia de festa. O que nunca sucedeu durante
aqueles meses: "o Benfica nunca
ganhou enquanto eu estive preso".
De modo que o vulgar era ser atirada comida para o
pátio, através das grades, de cada vez que o árbitro parecia desfavorecer os
encarnados. Uma falta assinalada ou por assinalar, desde que prejudicasse os da
águia, significava que voavam maçãs, bananas ou os restos da sopa. Era uma
forma de protesto. Ganhavam os pássaros e os ratos.
A prisão da Rua Gomes Freire, na capital, está dotada
de antena parabólica que permite a todos assistir aos desafios do Benfica.
Circula o rumor de que teria sido uma iniciativa de Vale e Azevedo, quando por
lá passou.