Por todo o mundo, as cadeias são locais onde se
verifica alguma violência.
Ocasionalmente, ouve-se falar de reclusos que são
espancados por guardas. Foi o que se passou aqui há uns anos na penitenciária
de Lisboa. Um preso discutiu com um agente. Pouco depois, levou uma sova de
sete colegas daquele.
Noutros casos, são os detidos que atacam os guardas. Em
Paços de Ferreira, um recluso espetou uma caneta na face de um responsável pela
vigilância.
Evidentemente, o mais vulgar são as cenas de pancadaria
entre prisioneiros. Muitas vezes, são utilizadas armas artesanais. Um objeto
metálico pode ser transformado em perigosa navalha, se for pacientemente
afiado.
Se algum detido morre na sequência de uma zaragata,
suscita-se logo a questão de saber se já estaria tudo planeado. Há logo quem
surja com a teoria de que, com uns empurrões, iniciou-se a desordem. A vítima
reagiu, foi rodeada de uma série de pessoas e acabou assassinada, como
pretendiam os provocadores. Depois, impera o silêncio. Ninguém sabe quem
esfaqueou o homem que veio a falecer.
SEIS FACADAS
Em 2001, Rui Jorge Gomes foi morto no pátio da prisão
de Vale de Judeus. Cumpria 20 anos, por liderar o gang do multibanco, que
raptava senhoras ao volante de automóveis. As vítimas eram violadas e obrigadas
a fornecer o código do cartão multibanco, por forma a que os bandidos
levantassem dinheiro das suas contas bancárias.
Ana Cristina, de 25 anos, foi a que mais sofreu. Acabou
assassinada e enterrada perto de Sesimbra. Durante 2 anos, os seus pais
ignoraram o que sucedera com a filha.
Quando Rui perdeu a vida devido a seis facadas no
pescoço, sem que se soubesse quem o atingiu, muitas hipóteses foram colocadas.
Alguns diziam que um amigo ou familiar de Ana Cristina quis vingá-la e
encomendou o homicídio.
PARLATÓRIO
Já não é nada habitual haver bordoada durante as
visitas de familiares. O parlatório nem sempre corresponde ao modelo
paradigmático de uma mesa e cadeira em frente a um vidro, sentando-se o
visitante em frente ao recluso.
Na maior parte dos casos, a visitação decorre numa sala
espaçosa. O prisioneiro e os familiares sentam-se em redor de uma pequena mesa.
Enquanto conversam, há contato físico: beijinhos, abraços, apertos de mão...
CARINHO
Pois, aqui há uns tempos, numa cadeia do sul, a
abordagem da mulher para com o marido, que se encontrava preso, foi menos
carinhosa.
Era domingo e numerosas pessoas formavam bicha junto ao
portão do estabelecimento prisional. Muitas já se conheciam. Aquele era o dia
da semana que reservavam para visitar os seus entes queridos, privados da
liberdade.
Lurdes, ainda jovem, ia duas vezes por semana ver o namorado,
preso por roubo à mão armada. A seu lado, encontrava-se uma senhora muito
obesa, dos seus 40 anos. Era uma cara nova. Nunca a tinha visto por ali. A mais
nova decidiu meter conversa e perguntou quem ela iria ver. A resposta surgiu
com um nome que Lurdes identificou:
- Sei perfeitamente quem vai visitar. Ele dá-se com o
meu marido. Aliás, eu tenho visto aqui a mulher dele.
A interlocutora ficou espantadíssima. Fez algumas
perguntas sobre a tal "esposa" do preso. É que ela era a verdadeira
mulher. Pelos vistos, o marido andava a receber visitas de uma outra, que
passava por cônjuge.
Chegou a hora dos encontros e os reclusos reuniram-se
aos seus familiares numa ampla sala. Apenas uma guarda permanecia no
compartimento, enquanto uns conversavam e outros iam adquirir alguns snacks na
máquina automática de distribuição, mediante introdução de moedas na ranhura.
Entretanto, a tal senhora anafada pedia explicações ao
marido, preso por tráfico de droga. Afinal, que história vinha a ser aquela de
ser visitado por outra, que se intitulava mulher dele?
Os ânimos exaltaram-se e a senhora desatou a bater ao
esposo, perante a estupefação geral. Saltaram cadeiras. Chamados os reforços,
quatro guardas separaram o casal.