São muitos os procuradores com talento para a pintura. Tantos, que até já foi organizada uma exposição, no Limoeiro, de quadros da autoria de magistrados do Ministério Público. Adriano Souto Moura era procurador-geral da República e foi um dos artistas que cederam algumas das suas obras para o evento.
Já os quadros pintados por um outro procurador originaram uma série de processos judiciais em tribunal.
Álvaro é um magistrado muito competente, excelente
jurista, que alia os seus conhecimentos de leis à capacidade de criar pinturas
de uma enorme beleza. Geralmente, o artista utiliza telas de dimensões grandes
e produz quadros encantadores que enchem uma divisão com imagens bem
expressivas.
CARRO NOVO
Certa vez, Álvaro quis trocar de carro. Optou por um
Audi, escolhendo o modelo A6, na versão sedan. Apesar de não pretender comprar
uma carrinha, para ele era essencial que o banco traseiro fosse rebatível, por
forma a poder transportar os volumosos quadros que pinta.
Realizou a encomenda em conformidade. Aguardou três
meses até que chegou o seu Audi cinzento metalizado. Junto a casa, verificou
que não conseguia rebater o assento, por forma a aumentar o volume da
bagageira. Telefonou para o vendedor e este confirmou que tinha havido um
engano. O automóvel entregue não dispunha desse equipamento. Mas tudo seria
resolvido aquando da primeira revisão. Proceder-se-ia à troca dos bancos.
Passaram-se quatro anos. Ficou demonstrado que só
aquando da produção da viatura é que era possível introduzir os bancos
rebatíveis. Impossibilitado de usar o carro para levar os quadros, o magistrado
colocou um processo em tribunal contra o concessionário. Este foi obrigado a
devolver-lhe o dinheiro, contra a entrega do veículo.
Pelo menos, os quadros ficaram a salvo.
UMA TRABALHEIRA
Acontece que, em janeiro de 2007, foi inaugurado o novo
tribunal do trabalho de Lisboa.
O procurador estava aí colocado ao serviço do
Ministério Público. Teve a generosidade de embelezar algumas paredes daquele
edifício novo com quadros de sua autoria. Muito belos, deliciavam quem por ali
passava.
O diabo foi quando, três meses depois ser estreado o
tribunal, uns ladrões introduziram-se lá dentro e levaram quatro destas obras.
Lá surgiu mais um processo judicial no Ministério
Público, para investigar quem teriam sido os autores do crime.