Aristides de Sousa Mendes é um grande herói português,
muito admirado pelo corpo diplomático.
Um antigo embaixador, conhecido pela alcunha de "Tremido", insultou Aristides, num
livrito publicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Outro ex-diplomata português decidiu também dar os seus
palpites numa publicação, que parece não ter merecido grande acolhimento. Ele
não diz que é edição de autor. O livro é apresentado como iniciativa de um
"grupo de amigos do autor".
Tem como título "O Cônsul Aristides Sousa Mendes - A Verdade e a Mentira".
QUE GRAÇA
O cavalheiro, nascido em 1920, é conhecido como Carlos
Fernandel. Mas não tem graça nenhuma, contrariamente ao popular ator francês.
Diz ele: "sou
a única pessoa viva que conviveu com o cônsul Aristides". Não vejo é
que tal lhe confira o dom de "expor
a verdade", como afirma.
De resto, aquilo que o Fernandel apresenta nem sequer
aparece escrito com grande mestria. O sujeito até reconhece: "há neste meu livro muitas repetições".
Todavia, ele explica-se: "são
propositadas, pois são verdades opostas às mentiras".
La Palisse não diria melhor. A verdade é o contrário da
mentira. É uma grande verdade.
Para que não haja dúvidas, ainda defende: "a mentira, porque é falsidade" não
poderá prevalecer. Uma boa argumentação...
O indivíduo crê estar a cumprir um importante papel. É
que "a fundação que Jaime Gama
fundou" tenta mitificar, senão santificar Aristides de Sousa Mendes.
A VERDADE
Ora, então, qual é a verdade, segundo este antigo
diplomata?
O cônsul "era
teimoso e rebelde, a aproximar-se de autista". Umas páginas mais
adiante, Fernandel tem ideias mais definidas. Afinal, Aristides era mesmo
"fraco e rebelde" e "no fundo, era um autista incorrigível".
Mesmo assim, não se compreendem "os disparates que cometeu". Aquilo
que "em francês, chama-se un coup de
tête, ou seja, uma cabeçada ou ato tresloucado, em português".
É inaceitável, visto que "Aristides era formado em Direito. Embora não brilhante, mas tirara o
curso".
Aristides de Sousa Mendes foi afastado da carreira
diplomática. Ele e seu irmão gémeo, o embaixador César, apelaram à
reintegração. Claro que nada conseguiram. Na verdade, verdadinha, "estavam passados", segundo
Fernandel.
E pronto. É isto que o autor diz ser "um livro de História, completamente
imparcial".