Devido a um infeliz acórdão do Tribunal da Relação do
Porto, parece ter-se criado um consenso nacional. Não é boa ideia ir embriagado
para o trabalho.
Aqui há uns 15 anos atrás, ocorreu uma situação
dramática, em Almada. Ainda se encontravam operacionais os estaleiros da
Lisnave, onde se procediam a obras de reparação naval. As instalações, quase em
frente ao Terreiro do Paço da Capital, contavam com um corpo de bombeiros
privativo, destinado a enfrentar os acidentes que ocorressem.
Ora um grande navio encontrava-se a ser pintado.
Ancorado no Tejo, estava rodeado de andaimes por onde circulavam os operários
que dele cuidavam.
BEM BEBIDO
Acontece que um trabalhador tinha acabado de almoçar.
Estava bem bebido e não era a sua hora de trabalho. Por uma qualquer razão que
não chegou a apurar-se, andava por ali nos andaimes, embora não estivesse a
laborar. A borracheira não lhe conferia grande agilidade, desequilibrou-se e
caiu ao rio.
A situação não seria muito problemática. O homem sabia
nadar e, mesmo ébrio, lá se ia aguentando. Os colegas que estavam a uns bons
metros de altura aperceberam-se de tudo. Havia ali uma boia de salvação. Alguém
lançou-a para a água. Infelizmente, ficou longe do tal operário. A boia não
dispunha de cabo para recuperá-la e o homem não nadou até ela.
De qualquer modo, a intervenção dos bombeiros poderia
resolver tudo. Metiam-se na lancha e acudiriam prontamente ao indivíduo em
apuros.
Desgraçadamente, não se encontravam propriamente de
sentinela. Entretinham-se a beber umas cervejas num café ali perto.
Alertado o corpo de bombeiros da própria empresa, os
restantes operários ficaram de olho no colega que fazia tudo para permanecer à
tona de água.
Mas o tempo ia passando e assistiram a uma tragédia. O
pobre do homem, que bebera demais, estava fatigado e sucumbiu. Diante de todos,
deixou-se afundar. Quando chegou a embarcação dos bombeiros, já não havia nada
a fazer.
INDEMNIZAÇÃO
A companhia de seguros ainda tentou evitar o pagamento
da indemnização à viúva. Alegou as três circunstâncias algo anómalas, que
conduziram ao drama. Não era o momento de o falecido se encontrar ao serviço e,
ainda assim, encontrava-se nos andaimes. O relatório da autópsia demonstrava
que estava ébrio. Os bombeiros demoraram quase uma hora a chegar ao local,
apesar de se encontrarem ali pertíssimo. Mais uma vez, porque a vontade de
beber uns copos prevaleceu.
Em todo o caso, o tribunal condenou a seguradora a
compensar a senhora que perdera o marido daquela triste forma.