O tribunal da Lourinhã, inaugurado em 1982, foi dos
últimos a contar com um importante investimento em obras de arte.
Na sala de audiências, exibe-se uma bela pintura de
Lima de Freitas.
No passeio, junto à entrada encontra-se uma imponente
escultura, da autoria de José Laranjeira Santos. Cada uma das três figuras
humanas simboliza uma realidade diferente. Ao centro, encontra-se a Justiça,
sentada. É ladeada pela Paz e pela Lei.
A Justiça segurava uma espada, representando o poder
punitivo. Não havendo sanções, a lei vale pouco. Caso seja desrespeitada, não
há penalidades. Ninguém se sente dissuadido. Pode violá-la como quiser.
RESTAURO
Aqui há uns anos, o gládio foi levado por ladrões. Mesmo
à entrada do tribunal! Imagino que os criminosos tenham sido motivados por
razões prosaicas. Ou eram meros vândalos. Ou então foram vender o metal ao
ferro-velho.
Há ainda outra hipótese. Poderiam os gatunos ter
como finalidade chamar a atenção para a crise da justiça e deixar a obra de
arte mais conforme com o modo de funcionamento dos tribunais portugueses.
A verdade é que a escultura continua assim, danificada, sem
que se tenha procedido ao seu restauro.
ANDARILHO
Com ou sem disfunções no sistema judicial, compensa recorrer à Justiça.
Assim pensa com certeza uma moradora de Andarilho,
pequena localidade daquele concelho da zona oeste. Habitando num meio rural,
ela sofria de mais stresse à noite do que alguém que
resida num prédio citadino,
onde haja um bar de karaoke no rés-do-chão, com máquinas de refrigeração a
trabalhar depois das horas de encerramento.
Tudo porque um vizinho mantinha oito barulhentos cães,
que ladravam durante horas seguidas, estivesse lua cheia ou não.
O proprietário não se incomodava muito. Pudera. Ele não
dormia lá. Limitava-se a manter ali um armazém de apoio à sua atividade de
camionista, com vários veículos de transporte. Os canídeos asseguravam proteção
contra assaltos, sem necessidade de empregar um guarda ou recorrer a
dispendiosos e sempre falíveis meios de vigilância eletrónica.
Pois a pobre senhora que não tinha sossego devido aos
constantes latidos, processou o motorista de pesados. O juiz lourinhanense
deu-lhe razão. Ordenou que o dono dos animais lhes desse outro domicílio.