É muito fácil convencer uma rapariga de 16 anos, que se
encontre grávida. De modo simples, diz-se-lhe que o bebé ficará muito melhor
com um casal impossibilitado de ter filhos. São pessoas trabalhadoras, dispõem
de meios económicos e cuidarão, com todo o amor, daquele menino, que será
verdadeiramente um filho, a viver numa casa confortável.
Se a criança for efetivamente entregue para adoção,
rapidamente surgirão dois problemas.
Passados dez anos, a jovem estará arrependida. Desejará
rever o pequeno que brotou do seu ventre, saber como ele é fisicamente e
conhecer o que tem sido a sua vida.
Não se proporcionando tal reencontro, quando decorrerem
vinte anos sobre o nascimento, é a vez do adolescente querer conhecer a mãe,
saber quem compõe a sua família biológica e apurar se existem irmãos, sempre
depositando esperança numa vida nova, junto de quem partilha o seu sangue.
HERANÇA
Uma habitação com aquecimento central e piscina, um
colégio dispendioso e férias em ambientes divertidos não compensam a privação
de uma herança que todos recebem à nascença: a família natural, com avós, tios
e primos.
A adoção é uma solução de recurso, com inúmeras
desvantagens. Poderá ser um remédio adequado para resolver situações de
abandono de crianças expostas, problemas gerados em guerras ou casos extremos
de orfandade. Nunca é benéfica para enfrentar dificuldades económicas ou
incompetências parentais.
O magnífico filme "Filomena" demonstra bem como a adoção é sempre uma tragédia,
com efeitos que se repercutem ao longo de décadas. Contrariamente à cruel
freira que lhe retira o filho, a protagonista é uma cristã genuína. Perdoa a
religiosa que, anos mais tarde, inviabiliza um pedido do descendente para rever
a mãe, ciente de que esta continuava em busca dele.
TU TAMBÉM?
Na Roma Antiga, os menores eram filhos de quem cuidava
deles. O que importava era a relação jurídica e não os laços familiares. Aliás,
um dos assassinos de Júlio César foi Brutus, seu filho adotivo.
A visão contemporânea é diferente. As crianças não
devem ser objeto de transações, acordos ou decisões com vista a estabelecer
quem é a sua família.
Se formos chamados a referendar a co-adoção, a minha
tarefa encontra-se facilitada. Pura e simplesmente, sou contra qualquer lei que
venha simplificar os procedimentos de adoção e alargar os casos em que a mesma
tenha lugar. Continuo a pensar que se deve ir reduzindo o número de menores
adotados, pugnando para que tal suceda apenas em ocasiões raríssimas.