Tenho uma profunda
admiração pelo procurador da República, que determinou o arquivamento do caso
Meco. Fui formando dele e muito aprendi com Joaquim Moreira da Silva, notável
jurista de qualidades humanas excecionais.
Escreve muitíssimo bem.
Até nesse domínio, julgo ter colhido alguns ensinamentos. Quando eu não quero
repetir as palavras “código penal”, aludo à expressão “compêndio normativo”.
Ele não sabe disto. Mas o
meu casamento, de onze anos, terminou com a promoção deste competentíssimo
magistrado.
Um grupo de colegas levou
a cabo um grandioso jantar, em sua homenagem, na Caparica. Eu não podia faltar.
O diabo é que o meu
matrimónio andava mesmo mal. A pedido de minha mulher, dias antes, eu tinha assumido o
compromisso de não jantar fora às sextas-feiras.
As coisas estavam próximas
da rotura. O facto de eu ter faltado àquela promessa ditou a separação no dia
seguinte.
Já lá vão dez anos.
INSTRUÇÃO
Agora, por vontade dos
familiares das vítimas, o processo do Meco será reapreciado por um juiz de
instrução criminal.
Nelson Escórcio é muito competente,
ponderado e laborioso. Trabalhámos em gabinetes contíguos.
Sei que investigará
pormenorizadamente. Levará a cabo todas as diligências de prova, com vista a
apurar novos factos.
Todavia, não é nesta fase
que João Gouveia revelará o que tem vindo a ocultar.
Nunca se saberá o que
realmente ocorreu nos momentos que antecederam a horrível morte dos seis
jovens.
O sobrevivente não sairá incólume
deste processo. Mas a responsabilidade ser-lhe-á assacada somente relativamente
ao que se passou posteriormente.
Com a sua retração, é
impossível colher elementos que o recriminem quanto ao trágico afogamento.
Porém, a conduta do “dux”,
nas horas que se seguiram, foi tão reprovável que ele forçosamente será
exprobrado por ter tentado esconder aquilo que lhe competia contar.