Impressiona o que é imputado a Paulo Pereira Cristóvão,
antigo inspetor da Polícia Judiciária.
Há alguns anos, aquele que foi também vice-presidente
do Sporting escreveu um romance com o título “Uns feios, outros porcos, todos maus”.
O autor começa por fazer uma elaborada recensão à sua
própria obra, explicando aos leitores: “Rir
de nós mesmos é a suprema demonstração da nossa evolução enquanto homens e
mulheres. O anti-herói cumpre esse propósito como ninguém […]. A leitura que se segue provocará, sem
dúvida, o choque, o riso, o choro e a compaixão. Conheçamos então a história de
vida de Maurício Fagundes, o polícia corrupto mais cruel que se possa imaginar”.
Por acaso, eu não ri nem chorei. Sem dúvida.
Não devo ter sentido compaixão nenhuma.
Mas agora, confesso, estou um bocadinho em choque.
COFRE
A personagem, o tal Maurício, trabalha na PJ e é o
próprio narrador, na primeira pessoa. Dispõe de um grupo que assalta casas por
ele selecionadas. No final do trabalho, recebe uma parte dos lucros.
Após os roubos, as coisas passam-se da seguinte forma.
- Quanto é que deu para mim, pá? – pergunto-lhe, com
cara de mau.
- Patrão… da forma como combinámos as coisas da divisão
do dinheiro e depois de ter vendido tudo o que conseguimos apanhar aos gajos e
lá em casa, tem aí para si três mil e duzentos euros. Não conseguimos tratar do
cofre, patrão. Mas tinha uns quadros e coisas em prata e porcelanas. Vendemos isso
tudo.
Mulherengo, o inspetor não é particularmente meigo com
as senhoras que lhe são mais chegadas.
Com os arguidos, chega mesmo à tortura.
Num daqueles assaltos por encomenda, as coisas correm
mal. Por tal sinal, em Cascais.
A dona da casa, pessoa abastada, apercebe-se de que é o
tal polícia que está por detrás do esquema.
Com medo de ser denunciado, Maurício não hesita. Mata-a
e desfaz-se do cadáver.
Um interessante exercício, mas certamente um desafio
complicado, seria tentar detetar o que há de real na tal ”história de vida de Maurício Fagundes” e verificar o que não passa
de mera ficção.