Sem dúvida, os 149 ocupantes do avião que se despenhou
nos Alpes foram vítimas de um horrível crime cometido pelo co-piloto.
Curiosamente, em jus navigandi, os
delitos conferem indemnizações mais reduzidas do que acontece em terra firme.
Normalmente, a confiança pessoal no comandante é
questão que não se coloca, até porque não sabemos quem ele é.
Poderemos ter segurança na companhia aérea, que recruta
e dá formação aos seus profissionais, garantindo que eles estão em perfeitas
condições antes de embarcarem. Mas, de um modo geral, não dispomos de opinião
própria formada sobre aquele preciso aeronauta.
Não foi o que se passou com a D. Georgina, quando, aos
68 anos, fez o seu batismo de voo.
É a sogra do meu amigo Eduardo, professor universitário
em Vila Real.
A senhora viveu muitos anos em Paris, onde amealhou algumas
poupanças. De férias, quando regressava a Portugal, viajava de comboio ou de
carro. Nunca foi capaz de se dirigir ao aeroporto, tal era o medo que lhe
metiam as travessias aéreas.
MONOMOTOR
Logo que o genro obteve a licença de voo, a sogra não
hesitou e fez a sua estreia.
Ele não é profissional da área. Naturalmente tem poucas
horas a cortar os céus quando comparadas com o tempo que os pilotos de carreira
contabilizam.
Obviamente, o seu avião não oferece os sistemas de
seguridade dos modelos empregues no ramo comercial. É um pequeno Cessna movido
a hélice, inferior àquele em que morreu Sá Carneiro. Tratando-se de monomotor,
se o engenho falhar, as coisas complicam-se.
Mas aquela especial ligação entre genro e sogra fê-la
sentir-se muito mais corajosa.
De Trás-os-Montes a Beja, o percurso foi encantador e
uma alegria para a ex-emigrante, que assim perdeu o temor à navegação pela
atmosfera.