quinta-feira

NALGADA



Gerou controvérsia uma observação de Carlos Figueiredo, procurador-adjunto do Ministério Público. No Facebook, ele estranhava a quantidade de socialistas que visitam Sócrates na cadeia de Évora: “Estarão todos com o rabo preso?”.
O sarcasmo é garantidamente injusto. Tratam-se de camaradas que assinalam a amizade, numa fase difícil.
Tirando o gosto duvidoso do comentário e estendendo-o à generalidade dos processos criminais, temos de reconhecer: são considerações que se aplicam a várias ocorrências forenses.
Logo que um suspeito é preso, esteja inocente ou não, há uns tantos que ficam preocupados. Temem que o mesmo lhes possa suceder a eles. Sentem-se comprometidos e raciocinam da seguinte forma: “quem está a investigar o caso, percebe que se ele fez alguma coisa, não agiu sozinho, tem de haver outros sujeitos envolvidos”.


SUSTO

Claramente, foi o que ocorreu quando Oliveira e Costa, ex-presidente do BPN, foi parar ao xadrez. Penou durante cinco meses. Obviamente, muita gente assustou-se com a possibilidade de o arguido falar. Ele poderia mencionar nomes de indivíduos relacionados com a gestão do banco e referir os benefícios obtidos.
É facílimo perceber que essas mentes inquietas pretenderam transmitir algumas mensagens ao recluso. Era necessário que o economista mantivesse a calma e não entrasse em desespero, querendo implicar mais gente, na esperança de alijar as suas responsabilidades. Garantiu-se-lhe todo o apoio, fizeram-se promessas de ajuda a todos os níveis e explicou-se que era uma questão de tempo até as coisas se resolverem.
A verdade é que o antigo secretário de estado foi mandado para casa, com pulseira eletrónica. Passado pouco mais de um ano, gozava já de completa liberdade, apenas com o dever de se apresentar semanalmente na esquadra.
Este género de recados, conselhos e pedidos surgem em imensas investigações penais. Desde as mais complexas golpadas económicas até às minúsculas redes de tráfico de droga em diminutas quantidades, passando pelos grupos que exploram casas de alterne e por quem envia carros roubados para África.
Agora, é evidente que os avisos ao prisioneiro e as solicitações realizam-se de modo discreto.
Não se trata de aparecer na cadeia e, no meio de outros reclusos e visitantes, preveni-lo de que importa conservar a serenidade e nem pensar em aludir a determinadas circunstâncias. Muito menos aparecer diante de câmaras de televisão junto ao portão do estabelecimento prisional, com vista a ir lá dentro diligenciar no sentido de escapar a responsabilidades.
É claro que aquela insinuação do rabo preso era apenas um dichote com pretensões a chalaça espirituosa.
A piadola tinha na sua base algo que realmente acontece em numerosas averiguações, mas que não se verifica naturalmente ali, naquele processo. Os visitantes são apenas amigos, camaradas, colegas, que desinteressadamente demonstram solidariedade, sem quaisquer segundas intenções.