sexta-feira

SEM SABER COMO



Por vezes, nas eleições presidenciais, alguns votantes exercem o seu direito a contragosto. Pretendem que determinado candidato ganhe. Mas pensam que ele não será o ideal para ocupar o cargo.
Em 1980, os comunistas encaravam Eanes como um mal menor. Os soaristas não sabiam em quem votar. Queriam impedir a reeleição do general. Mas não estavam interessados em dar o seu voto a Soares Carneiro, ilustre desconhecido da direita.
Cinco anos depois, Cunhal apelou a que se engolisse um sapo.
Jorge Sampaio foi bafejado por uma enorme sorte, em 1996. Chegou a chefe de Estado sem saber como, devido ao desgaste do seu adversário, que servira dez anos como primeiro-ministro.
Já em 2006, Cavaco tornou-se presidente após um passeio na avenida, para utilizar a expressão de Mário Soares. Manuel Alegre não tinha hipóteses, pois não contava com o aparelho do seu partido.


ADEQUAÇÃO

Desta feita, a meu ver, o caso é diverso.
Os três elementos mais bem posicionados oferecem qualidades reconhecidas nos vários quadrantes e reúnem simpatia generalizada. Ou dito de outra forma, não haverá muita gente que antipatize com os favoritos, que os encare como pessoas pouco adequadas a exercer as funções.


LEÃO

Marcelo Rebelo de Sousa foi meu professor no 2º ano da Faculdade.
Somos ambos leões, pertencentes ao Lions Club. Aliás, desde há muito, ele é simultaneamente membro do Lions e do Rotary. Antigamente tal situação era algo desaconselhada. Mas hoje corresponde a uma realidade cada vez mais frequente.
Marcelo sempre se assumiu como um homem avant la lettre.
Foi de grande amabilidade quando eu escrevi o livro “Se a Justiça Falasse...”. Logo que ele chegou às livrarias, divulgou-o no seu comentário dominical, com entusiasmo. No dia seguinte, a minha editora estava a promover nova edição. De modo que, no dia do lançamento oficial, a obra já ia na segunda edição.
Posteriormente, o professor ainda se tornou mais amável. A meu pedido, escreveu um importante texto sobre o que significa ser docente universitário e que consta do meu livro “Sucesso nas Carreiras Jurídicas”.
Duas caraterísticas destaco no social-democrata.
Um precursor, que marca os caminhos futuros.
Uma personalidade constantemente pronta a ajudar e dar de si em benefício da comunidade.


SORTIDO HÚNGARO

António Sampaio da Nóvoa era reitor quando eu o conheci, apresentado por António Feijó, então diretor da Faculdade de Letras.
Tratava-se de uma interessante iniciativa, que contava com o apoio do embaixador da Hungria, destinada a dar a conhecer a cultura do seu país, que assumira, pela primeira vez, a presidência da União Europeia.
Animadamente, conversámos sobre o sortido húngaro, normalmente presente nas pastelarias portuguesas. O diplomata dizia que era uma especialidade desconhecida na sua terra. A verdade é que eu vi tal doçaria no mercado central de Budapeste.
Saliento dois pontos.
Nóvoa internacionalizou a universidade de Lisboa e aumentou o respetivo prestígio a nível mundial, ao mesmo tempo que encontrou uma importante fonte de financiamento fora de portas.
É um indivíduo muito bem-disposto e extremamente cosmopolita.


JANELAS

Foi num 21 de julho que encontrei Maria de Belém, pela primeira vez.
Eu tinha arrumado o carro numas instalações militares, para os lados da Lapa.
Ainda não eram quatro da tarde e fui passeando lentamente pela Rua das Janelas Verdes até que chegasse o momento do início de uma receção na casa do embaixador da Bélgica, por ocasião do respetivo dia nacional.
Vi aproximar-se um Audi A4 já com uns bons anos, ultrapassando provavelmente uma década. De lá saiu uma elegante figura feminina, bijou mignonne.
Nada incomodada por ser cedo e o portão se achar encerrado, logo tocou à campainha. A entrada foi-lhe franqueada antes de a festa começar.
Principiada a solenidade, falei com a jurista num grupo muito alegre. Como é próprio das senhoras, a política revelou-se capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Servindo-se do fondue de chocolat aux fraises, ia também alimentando a conversa.
Sublinho um par de especificidades.
Uma mulher com espírito de iniciativa, desempoeirada, sem hesitações.
Pessoa extremamente ativa, cheia de energia.