segunda-feira

O MORTO VOLTOU



É perfeitamente defensável pugnar para que não se realizem mais cursos de comandos, a tropa de elite.
As mortes de soldados durante a instrução permitem relançar o debate, sendo admissíveis as duas posições.
Uns creem que é sempre necessário continuar a formar militares de uma força especial. Outros entendem ser inútil fazê-lo em tempo de paz.
Helena Silva e Paulo Kellerman escreveram um importante livro sobre a 32ª companhia, que esteve em Moçambique entre janeiro de 1971 e julho de 1973.
O título da obra é bem revelador quanto às baixas registadas: “Voltámos todos”.
Partiram 182 homens. Todos sobreviveram.
Houve ali um momento em que se pensou que não seria assim.
Ilídio Lázaro foi encaminhado para a morgue. O corpo ficou na câmara frigorífica. A dada altura, ouviram-se umas pancadas. Um cabo pôs-se a correr, abriu a gaveta e retirou o seu camarada de armas com vida.
Na hora de regressar, todos, incluindo o tal Ilídio, embarcaram em direção à Metrópole.


QUEDA LIVRE

Durante os mais de dois anos em terras africanas, esses militares contaram com o apoio da única mulher daquele continente que desempenhava as funções de instrutora de queda livre.
Carmo Jardim pilotava um Cessna 172. Reunia-se aos homens que tinham aproximadamente a sua idade e que passavam por momentos muito difíceis, sofrendo horrores que, de certa forma, eram amenizados pelo frequente contacto com a filha de Jorge Jardim.


CRIME

Infelizmente, com o 127º curso, iniciado em setembro, o desfecho não é este. Não voltam todos.
É quase certo que as duas baixas resultam de conduta criminosa, como como se conclui da recolha de provas levada a cabo pela Polícia Judiciária Militar e pelo Ministério Público.
O facto de se estar perante um crime constitui argumento válido para ambas as orientações.
Quem propõe a abolição dos comandos dirá que a sua extinção se impõe para que não se repitam ilícitos desta natureza. Os defensores da sua manutenção afirmarão que o erro não está na existência daquela unidade, mas sim no procedimento contrário à lei, que ninguém pode tolerar.