segunda-feira

JUDEUS



No concelho de Azambuja localiza-se a cadeia de Vale de Judeus, uma das duas prisões classificadas como sendo de segurança e de onde ninguém consegue escapar.
A outra é a de Monsanto, na capital.
Nesta última encontra-se Pedro Dias. Vive agora mais confortavelmente do que no último mês, após ter assassinado dois homens e atingido a tiro duas outras pessoas, feridas com muita gravidade e que se salvaram apesar de a intenção do criminoso ser realmente a de lhes tirar a vida.
Em todo o caso, a vida não é fácil naquele estabelecimento rodeado de intensas medidas securitárias.
Começou por ser um quartel edificado no século XIX, o Forte do Marquês Sá da Bandeira. Em 1914, foi adaptado a penitenciária.
Já vão longe os tempos em que se tratava de um vulgar presídio, onde os reclusos circulavam mais ou menos à vontade, pernoitando amontoados em celas coletivas.



A VÍTIMA É QUE PAGOU

Há oito anos procedeu-se a uma ampla remodelação e hoje é um local sobredimensionado, que aloja 62 presos.
Vão para ali por decisão do diretor-geral. Ou porque já se evadiram anteriormente quando se encontravam em cárcere menos rigoroso. Ou, então, por terem revelado outras caraterísticas suscetíveis de demonstrar que poderão empreender facilmente uma fuga: especial violência e pertença ao crime organizado, por exemplo.
Foi lá que esteve um cliente meu que disparou contra um elemento da Polícia Judiciária. O arguido foi acusado de tentativa de homicídio, mas acabou absolvido em tribunal. O inspetor ainda pagou as custas do processo. Tive alguma pena do homem.
Ali cumpriu pena por crimes de guerra um militar sérvio condenado pelo Tribunal Penal Internacional. Mile Merketch morreu antes de expiar a sanção na totalidade.


ASCENSOR

Os cativos usam todos um fato-de-macaco amarelo e passam 22 horas por dia trancados nas suas celas, onde tomam as refeições. A televisão encontra-se atrás de um vidro e apenas pode ser regulada pelo comando.
Dispõem somente de uma hora num pequeno recinto, que só com esforço se pode designar como pátio. Trata-se de um fosso coberto por grades que impedem a aterragem de drones. Ali apenas se reúnem dois ou três detidos em simultâneo.
A biblioteca permite o empréstimo de alguns livros, mas também breves momentos de convívio em redor das três mesas ali existentes.
Duas máquinas de remo, uma passadeira e uma bicicleta estática equipam o ginásio.
À noite, um esquema clandestino muito rudimentar permite que os presos troquem objetos.
Uma bola de papel é colocada na ponta de um cordel, que é atirado para as grades do destinatário. A outra extremidade permanece em poder do indivíduo que fez o lançamento. Quem recebe a esfera passa a guita em redor da barra de ferro e manda de volta o esférico. De posse das duas pontas, o que começou o procedimento ata o fio. Assim se cria o “elevador”, que na realidade mais se assemelha a um teleférico.
As visitas de familiares processam-se, de um modo geral através da utilização de um parlatório em que o prisioneiro permanece atrás de um vidro, operando a comunicação com microfones e altifalantes.
Excecionalmente, são autorizadas reuniões esporádicas numa sala comum, em que é viável o contacto físico.
Nalguns casos, realizam-se encontros íntimos com o cônjuge, em compartimento dotado de cama.


INTERVENÇÃO

Mesmo ao lado da prisão situa-se o tribunal construído propositadamente para o julgamento de Otelo Saraiva de Carvalho: Como nasce um tribunal
Também é lá que ficam as instalações do grupo de intervenção dos serviços prisionais, a tropa de elite da corporação.
Trata-se de um conjunto de edifícios sem valor arquitetónico, com enormes espaços vazios, ocupando uma vasta área de um parque lisboeta que urge aproveitar melhor. É essencial demoli-los. Não se justifica a respetiva manutenção, sobretudo se vier a ser construído um novo aljube que sirva a área metropolitana de Lisboa, mas nos arrabaldes.

















Cadeia de Monsanto em 1990, antes de ser transformada em prisão de segurança. Rui Gageiro, Jornal “Público”.