domingo

UM OUTRO PONTAPÉ



No divertido filme português “O Pai Tirano”, um rapaz de 9 anos atua, representando o papel de um menino mimado, na secção de brinquedos da grandiosa loja Grandela, ao Chiado.
Aproveitando um momento de distração da Mãe, o miúdo dá um pontapé ao empregado e ainda se põe a chorar, fazendo uma birra, como se o caixeiro o tivesse maltratado. O pobre homem apanha com um raspanete da progenitora, sempre pronta a dar incondicionalmente razão ao seu petiz.



RESTAURANTE

Cinquenta anos depois, esse ator improvisado, de seu nome Henrique Lages Ribeiro, foi vítima de uma soez agressão, na presença de outra senhora. Tratava-se da mulher que ele elegeu como sua esposa. A ofensiva deu-se quando eles saíam de um restaurante, após o jantar.
Tudo se passou em Macau, cidade então sob administração portuguesa, onde o militar de carreira passou grande parte da sua vida.
Responsável máximo pela Polícia de Segurança Pública local, foi aí que o brigadeiro se cruzou com o temível Wan Kuok Koi, também conhecido por Pang Nga Koi ou Dente Partido. O delinquente chefiava uma cruel organização criminosa, que atuava em casinos e hotéis macaenses, retirando elevados proventos da agiotagem, exploração de salas de jogo e prostituição. Impôs o medo com dezenas de assassinatos que ficaram impunes.
Gerou-se uma guerra sem quartel entre as forças da ordem e o bando que teimava em subjugar a polícia.




VISITA

Certa vez, a confortável moradia habitada por Ribeiro foi assaltada e vandalizada, com o propósito de intimidar a população. Pois a autoridade nem sequer conseguia garantir a segurança daquela residência.
Uns tempos mais tarde, ocorreu o tal ataque.
Lages Ribeiro finalizara um agradável momento de convívio em redor de pratos tipicamente portugueses, na companhia da mulher e de uma amiga. Já na rua, o trio foi abordado por indivíduos mal-encarados, que trataram de imobilizar o líder policial, enquanto outros espancavam as duas senhoras, colocando o português na posição de não as poder defender.
Mais uma investida plena de simbolismo, visando desautorizar o profissional de armas.
Três anos passados, já com aquele dirigente reformado a viver em Portugal, Wan Kuok Koi foi preso e mandado para uma cadeia exclusivamente destinada a ele, construída propositadamente para o efeito na ilha de Coloane.
Ali esteve durante 14 anos, autorizado a receber apenas a visita de sua Mãe.